Décadas De Som

Décadas De Som é um blogue que visa recordar as grandes bandas do passado que não tiveram
o espaço que mereciam na mídia, ou que já o perderam, e falar das novas que são competentes
para serem grandes, mas que por alguma razão ainda não o são.

sábado, 14 de agosto de 2010

Vzyadoq Moe



Vzyadoq Moe foi uma banda muito peculiar, a começar pelo seu nome que nada significa a não ser um sorteio de letras, seguindo a receita de Tristán Tzara para se fazer um poema dadaísta. Na realidade o sorteio de letras deu Vzyadoq Mof, devidamente corrigido pela banda. O significado era: ‘O primitivismo, o começar do zero, o novo em nossa arte’.

As influências iniciais, que moldaram a música do Vzyadoq Moe, vieram do cinema expressionista alemão, da poesia de Augusto dos Anjos e dos livros de Clarisse Lispector, que definem toda a teatralidade do som e das apresentações da banda. Havia também o Heavy Metal, a poesia e o lirismo de Nelson do Cavaquinho, junto com o turbilhão musical dos anos 80 onde o rock domina a tecnologia e expande suas fronteiras através de fusões com a música africana, jamaicana, indiana, entre outras. O punk atinge o mainstream musical e a banda leva ao termo o lema do movimento “Faça você mesmo”. A música na época é item secundário na equação do Vzyadoq Moe, pois a proposta inicial da banda é a de romper os paradigmas do pop mundial arrebatando o cetro de Londres. Basta ver o depoimento de Fausto Marthe em entrevista para Sônia Maia na Revista Bizz em 1988.

Iniciam os ensaios na garagem do baterista Peroba. A falta de dinheiro proporcionou o inusitado set de percussão onde latas de óleo, caixas de papelão de eletrodomésticos, chapas de zinco de ferro-velho formam uma sonoridade particular, muitas vezes confundida com a música industrial dos anos oitenta. A falta de prática instrumental foi substituída inicialmente por muita criatividade em abordagens não tradicionais da famosa tríade do rock: baixo, guitarra e bateria.

Nesse momento, em 1987 o Vzyadoq Moe era formado por:

Fausto Marthe - vocal;
Marcelo Acabado - guitarra;
Jacksan - guitarra;
Edgard Degas - baixo;
Marcos Peroba - bateria.

Para compor, alguns métodos nada formais segundo palavras de seus músicos:

Degas: "Qualquer um dos instrumentos pode achar um fraseado, uma sonoridade interessante a partir do caos inicial. Daí, os outros seguem atrás daquela ideia, de improviso, e acabam acertando".

Marcelo: "Não existe lei. Às vezes o baixo faz a linha da guitarra, a guitarra marca o ritmo e a bateria define a melodia".

Fausto: "Faz-se a costura e a melodia aparece somente quando todos os instrumentos estão tocando".

Marcos: "Tem música em que o baixo é uma terceira guitarra".

Fausto: "Minhas letras não são escritas para serem letras. São poemas inspirados no expressionismo arcaico e em Clarice Lispector".

Marcelo: "Nossas guitarras são rigorosamente iguais. Não existe aquela história de base e solo. Elas se atropelam, se fundem e fazem o ambiente".

Marcos: "Se eu tivesse dinheiro para comprar um kit de bateria normal, eu não compraria. Procuraria investir em pedais e efeitos para completar minhas latas, em busca de melhores timbres"

Desde o inicio foram muitos shows em Sorocaba, São Paulo, Curitiba e Rio de Janeiro, com a imprensa escrevendo incansavelmente sobre a banda, notadamente a Revista Bizz da Editora Abril. Mas de maneira geral os artigos não conseguiram qualificar de maneira adequada o som do grupo, na compreensão dos músicos da banda.

Em 1987 começam a gravar seu primeiro LP (sim na época o CD estava engatinhando) nos estúdios Eldorado no centro de São Paulo, pela Wop Bop Discos com a produção de José Augusto Lemos, o Scot. O resultado é o primeiro disco do Vzyadoq Moe chamado “O Ápice”, lançado em março de 1988.

O disco recebe destaque na imprensa saindo até em matéria na revista californiana Spin de junho de 1989, assinada pelo jornalista Biron Coley. Foi destaque também nos cadernos de cultura dos principais jornais e revistas do país. Vale ressaltar o artigo de Mário César de Carvalho na Folha de São Paulo, aquele que melhor soube expressar a proposta sonora da banda na mídia impressa.

O Ápice



01 Junto Ao Céu
02 O Último Desígnio
03 O Incerto
04 Desejo Em Chamas
05 Redenção
06 Não Há Morte
07 A Monomania
08 O Ápice
09 Guerra Das Sombras
10 Expansão
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A série de shows se intensifica e o Vzyadoq Moe ocupa as maiores casas de show da época em São Paulo, onde a cena roqueira estava bastante ativa: Largo do São Francisco, Teatro Mambembe, Centro Cultural SP, Espaço Retrô, Dama Shock, Projeto SP, Aeroanta, Der Temple, The Clash, Sesc Pompeia, entre outros.
Apresentam-se também na televisão nos programas Fanzine e Metrópolis da TV Cultura São Paulo.

Em meados de 1989, devido a compromissos estudantis do guitarrista Jacksan que sai da banda, entra o Fernandão acrescentando a sua formação bastante ligada ao blues para a sonoridade do Vzyadoq Moe. Inicia-se uma nova fase com músicas que misturavam o samba, o rock e o próprio blues.

Neste ano gravam sua participação no disco tributo ao mutante Arnaldo Baptista, “Sanguinho Novo”, lançado pela Gravadora Eldorado com a produção de Carlos Eduardo Miranda e Alex Antunes. Gravado no mesmo estúdio Eldorado usado pela banda para registro de seu primeiro disco. A música gravada foi "Bomba H Sobre São Paulo".
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Os shows se ampliam para o interior do estado e para outros estados. A atividade sonora da banda é intensa nos próximos dois anos entre composições, gravações e apresentações. Levam sua performance para Londrina, Curitiba, Porto Alegre, Rio de Janeiro, Florianópolis, Presidente Prudente, Jaú, Sorocaba, além de muitos shows na capital de São Paulo.

Em 1990, o Vzyadoq Moe participa de outra coletânea de bandas o “Enquanto Isso”, produzido por Alex Antunes e RH Jakckson e lançado pelo selo independente Manifesto em outubro desse ano. Gravado no SoftSynch, na Pompéia em São Paulo com produção de Akira S e da banda. Pela primeira e última vez o grupo se apresenta em inglês,
Alternam os ensaios entre Sorocaba e São Paulo em estúdios de amigos. Mas muitas vezes garagens, escolas fechadas em finais de semana, casas dos pais ainda não alugadas, entre outros espaços de oportunidade são os locais recorrentes das jams da banda. Sempre com a turma amiga acompanhando o barulho de perto.

Nesse mesmo ano o New Music Seminar de Nova Iorque, convida a banda para show no Cat Club em Manhattan. Por falta de dinheiro a banda foi abrigada a recusar o convite. Para compensar a frustração o Vzyadoq Moe volta para o estúdio SoftSynch e com produção própria e a engenharia de som de RH Jackson grava os seus cinco maiores hits dessa época.

Parando um ano para recompor as baterias em 1992. A banda volta em 1993 como um quarteto com Fausto, Acabado, Degas e Peroba e um som de muita força e energia, onde abandonam o samba agregando elementos de speedy metal a já característica sonoridade do grupo.

Mais maduros e melhores músicos, depois de anos de estrada, o Vzyadoq Moe grava com produção própria duas músicas no estúdio Big Bang no bairro de Pinheiros em São Paulo, capital.

No segundo semestre de 1993 realizam seu primeiro videoclipe “Rompantes de Fúria”, com produção da Digital Group e direção de Sérgio Martinelli e Gilberto Caserta, chegam assim a MTV.

Tocam a maior parte do tempo na capital São Paulo, onde a maioria da banda se mudou por motivos profissionais. A dissonância sai das músicas e atinge o grupo, que encerra suas atividades.

Em 1999, na ocasião do lançamento de uma rádio on-line, é lançado informalmente o CD “Hard Macumba”, com material gravado e ainda não publicado e mais algumas faixas do show realizado em 1991 no Aeroanta em São Paulo.



01 Matéria Viva
02 Sabedoria
03 Sonhos
04 Viva Iansã
05 Cabinet
06 Pelle (Ao Vivo)
07 Pocesso
08 Santa Brígida
09 Rompantes De Fúria
10 Via Plastez
11 Não Há Morte (Ao Vivo)
12 Maldade (Ao Vivo)
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Em 2001, a Gorila Records relançou em CD “O Ápice”, em edição que se esgotou rapidamente.

Muitos hits se perderam no tempo por falta de registro: “Ele Está Só”; “O Duo E Seus Dons”; “Seu Puro Ouro, Vi”; entre tantos outros, que estão na memória daqueles que puderam ver e ouvir o som inovador e único da banda.
A busca pelo novo o Vzyadoq Moe perseguiu até o seu fim.

O Vzyadoq Moe pode ser encontrado na literatura nos seguintes livros:
“DIAS DE LUTA - O ROCK E O BRASIL DOS ANOS 80”
Autor: Ricardo Alexandre
Editora: DBA

“O ABZ DO ROCK BRASILEIRO”
Autor: Marcelo Dolabela
Editora: Estrela do Sul

Fonte:
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